Leitora: Luiza, sou uma mulher de 33 anos, tenho três filhas e sou casada com um homem de 38 anos. Faz três meses que estou separada do meu marido, ainda não nos divorciamos, mas não vivemos mais juntos. A razão dessa separação foi uma profunda decepção que tive com meu marido, pois descobri que há anos ele vinha se encontrando com travestis para fazer sexo como passivo.
Descobri várias fotos e até vídeos em seu computador com ele se fazendo de mulher para os travestis. Essa descoberta foi profundamente chocante e revoltante para mim, pois além do sentimento óbvio de traição, também senti sua masculinidade se dissolvendo por completo à medida em que via as fotos e assistia aos vídeos. Foi o pior sentimento da minha vida descobrir que meu marido na verdade nunca foi homem.
Naquele dia, quando ele chegou em casa, despejei tudo o que sentia em cima dele, o ofendi tremendamente, o expulsei de casa e ele saiu chorando convulsivamente. Passamos dois meses inteiros sem nos comunicar, sem trocar uma palavra sequer, mas há cerca de um mês retomamos o contato. Ele se mostra profundamente arrependido do que fez, jura que nunca mais vai se encontrar com um travesti, diz que continua a me amar profundamente e afirma que não consegue viver longe das filhas. Eu também me arrependo da reação que tive com ele quando descobri e confesso que sinto muita falta dele, mas ao mesmo tempo, me sinto profundamente traumatizada e violada por sua traição. Sempre que nos encontramos ele pede muito que eu o aceite de volta e chora profundamente por arrependimento, mas eu sempre peço um tempo para pensar melhor.
Luiza, eu confesso que apesar de tudo continuo a amá-lo e no fundo desejo que ele volte. Será que devo dar-lhe uma segunda chance? Será que posso confiar que ele não volte a se encontrar com travestis? O que você faria no meu lugar? Obrigada.
“O que você faria no meu lugar?”
No seu lugar, eu não voltaria mais com ele. E até o final desse post, vou tentar te explicar todos os motivos, ok?
Primeiramente, ainda que saiba que, pra tudo na vida tem exceção, esse fetiche por travestis parece ser algo muito maior do que ele. Ou seja, parece ser algo que ele realmente gosta e se sente realizado. Tanto é que até filma, guarda lembranças e tá na mesma há anos.
Outra coisa que me faria não acreditar nele, é o fato de trabalhar com isso. Já atendi, e atendo, muitos homens com todos os tipos de “problemas” e “fetiches”, e te afirmo uma coisa: já vi traidor virar fiel (arrumou alguém que ama de verdade, por mais que isso possa parecer polêmico, ou simplesmente amadureceu, etc), mas nunca vi um fetichista – seja lá qual fetiche for – deixar de ser fetichista. A não ser que se trate de fetiches pontuais. Por exemplo, querer fazer um a três, querer fazer em um banheiro público e coisas que, em geral, só da pessoa realizar já fica satisfeita e não sente mais necessidade de repetir. Porém, fetiches como “gostar de fazer com travestis”, “gostar de usar lingeries femininas”, “gostar de fezes”, entre outros, dificilmente são “revertidos”. E sabe por quê? Porque costumam ir muito além de uma “simples brincadeirinha/curiosidade” e pegam muito mais num plano psicológico – e a depender do caso, até mesmo de orientação sexual – do que qualquer outra coisa.
Eu, Luiza, também não acho que gostar de sexo anal passivo faz um homem deixar de ser hétero (assista a esse vídeo em que explico tudo), até porque, muitas mulheres gostam de anal e nem por isso são lésbicas ou “menos mulheres tradicionais”. Porém:
1- Ele poderia ter pedido pra você fazer, não uma travesti.
2- Por mais que a traição seja horrível: por que ele, mais uma vez, escolheu uma travesti, não uma garota de programa? Muitas fazem esse serviço.
3- Por fim, com travesti, mulher de balada ou garota de programa, qual é o peso que a traição tem em sua mente?
E ok, você até poderia pensar que ele talvez não tenha te contado justamente por ser chocante demais. Porém, não deixa de ser uma traição e também não deixa de ser um gosto que, acredito, ele preferiria não ter (raramente alguém quer gostar de um tabu social). Mas ele tem, e por mais que te ame e o choro seja sincero, sempre existirá esse lado muito forte dentro dele.
Sendo assim, a única solução seria você aceitar esse fetiche e realmente conseguir viver FELIZ com isso, ou ele trocar de cérebro/coração. Do contrário, ou ele continuará contigo fingindo que não sente mais nada por travestis (e ficará frustrado caso de fato pare de fazer), ou você fingirá que tá ok ele sair com elas, enquanto se sentirá paranoica e deprimida com os gostos que você nunca aceitou de coração, mas sim engoliu pra não ter que passar pela dor da separação.
Sem contar que, continuar com um homem que, na sua cabeça, já não é mais homem, é pesado demais e você sabe disso.
Por essas e outras, preferiria me acabar de chorar e depois superar do que voltar com ele e nunca mais ter paz, até porque já deu pra entender que o fato de vocês se amarem é o de menos por aqui.
Quanto ao argumento do “viver longe das filhas”, achei muito mais um apelo emocional pra vocês não se separarem do que um fato em si. Além do mais, se a gente sabe que quem quer dá um jeito, é só você dizer que ele sempre poderá ir ver as filhas dele; que poderá passear, viajar, etc. Ou seja, não é porque vocês não serão mais casados que ele deixará de ser pai. A não ser que ele não queira ver as filhas dele, o que obviamente, não é o caso. Se é assim, é realmente necessário saber diferenciar a vida de pai/mãe da vida emocional de vocês. E não adianta aceitar o moço “só porque ele é o pai” e a mãe ficar que nem um zumbi cheio de sequelas toda vez que olhar pra cara dele dentro de casa.
Por fim, voltando ou não, procure terapia e acompanhamento. Você está visivelmente abalada e não me parece que irá conseguir se curar disso sozinha, muito menos voltando com ele. A propósito, a última coisa que você deveria se preocupar por agora é com o seu marido, mas sim com voltar a ter sua estabilidade emocional, essa sim, pelos filhos de vocês. E aí quem sabe, DEPOIS pensar em alguma escolha.
Peça exames de DSTs e faça os seus também. Não necessariamente pelas travestis, mas sim pelas traições.
Boa sorte.
Luiza