Há 11 anos atrás, quando eu tinha 17 anos, comecei a namorar um rapaz que até então era só meu amigo. Achava-o o máximo, ele escrevia poesias e fazia de tudo para me conquistar. Eu era apaixonada por outra pessoa na época, mas por ele ser meu amigo e saber dos meus gostos, foi ganhando espaço até se tornar oficialmente meu namorado e, depois de um ano, meu marido.
A parte do marido foi meio confusa e a imaturidade fez com que se tornasse algo de grandes proporções. Eu era uma adolescente difícil e fui expulsa da minha casa, fui morar com ele na casa da mãe dele na época. Minha sogra me odiava (mas sempre soube que era por ciúmes). Como nossa relação não era boa (entre eu e minha sogra), decidimos ir morar em uma casa da família que estava inabitada. Neste meio tempo, veio a surpresa: eu estava grávida, agora não tinha mais volta e nem desculpa. Ficamos juntos, no início estávamos felizes, ele dizia querer ser pai e era um sonho.
Uns 3 meses após descobrir a gravidez, fui buscar meu computador na casa da minha mãe. Nele continha históricos de conversas anteriores com “amigos”. Ele, óbvio que esperou um momento em que eu estava tomando banho e foi fuçar… Ele encontrou uma conversa fatídica (que não me orgulho), com um ex. Um conteúdo, digamos, mais picante. Esta conversa com este tal amigo tinha acontecido no início do nosso namoro, em uma época em que eu não estava me sentindo bem comigo mesma e precisava amaciar o ego (mas não houve nada além deste papo, apenas uma única vez). Mas foi o suficiente para ele quase derrubar a porta do banheiro, gritar, me agredir e me jogar sem roupa na rua… Nesse mesmo dia e horário, um amigo nosso estava passando pela nossa casa e parou, acalmou ele e me colocou para dentro de casa.
Ele então me falou que só iria manter a relação pelo filho que estava a caminho. Eu me sentia culpada, uma conversa apenas se tornou o fim de uma grande paixão. Ele se aproveitou disso e começou a cortar minhas amizades, tanto com mulheres quanto com homens, dizia que minhas amigas eram todas vagabundas e meus amigos queriam meu corpo (uma grande mentira). Mas, como me sentia culpada, fui aceitando as condições… Com 6 meses de gestação, descobri que meu filho era deficiente, além daquela culpa que a gente sente inicialmente por ser gerado dentro de mim, ele me culpava falando que era a vida me provando o quanto eu era ingrata. Nisso fui me tornando depressiva…
Ele não me deixava usar as roupas que eu queria, nem maquiagem, nem uma bijuteria que fosse. Meu filho nasceu, dei todas as minhas forças para dar o melhor para o meu bebê. Cuidei, amamentei e aprendi tudo o que era necessário para dar o melhor. Meu marido me queria apenas para fazer sexo, não aceitava conversar comigo e eu não podia ter amigos. Até na casa da minha família ele me proibia de ir, dizendo que minha mãe era chata e que ele não suportava. Vivi 4 anos com este homem, ele me fazia me sentir culpada pela situação em que chegamos, pelo meu filho deficiente.. Não me deixava estudar, e quando finalmente consegui convencê-lo de que precisava terminar o colegial, ele ia me buscar e me levar na porta da escola para ficar de olho.
Certa vez, não tinha aula e fui tomar uma cerveja na padaria em frente à escola (normal, como qualquer outra pessoa) com uns colegas da escola e vi ele rondando a escola para ver se eu estava lá dentro. Depois de um tempo, comecei a trabalhar e, em 3 meses de serviço, ele fez um show de horrores na porta do meu trabalho dizendo que eu estava de graça com meu patrão (nunca tive nada com ele, nem passou pela minha cabeça) – fora tantas vezes que ele me fez chegar atrasada. Passados 3 meses ,perdi meu emprego. Foram 4 anos vivendo assim, 4 anos sendo anulada e excluída do mundo e de mim, pouco a pouco. Se tornou um looping eterno de humilhação e tristeza. Muitas vezes agredida verbalmente algumas fisicamente.
Quando mencionava a ideia de sair da relação, ele me fazia acreditar que eu não poderia ser nada sem ele, que viveria um inferno, que não saberia me sustentar, que não conseguiria cuidar do filho sozinha. E eu, idiota, acreditei. Neste tempo, não construímos nada juntos, tudo que ganhávamos sumia com a mesma velocidade da luz.
Temendo o futuro, um certo dia que ele passou a noite fora e foi a gota d’água. Eu prometi para mim mesma naquela madrugada que seria o fim. Não aguentava mais não ter uma vida e viver em função do que não valia a pena. Ali não tinha amor, compreensão, amizade, ternura e nem respeito. Decidi e assim aconteceu. Ao perceber que ele estava em casa, mandei-o embora. Joguei-o na rua com as roupas e tudo o que dizia respeito a ele. Foi um alívio, um extremo alívio…
No início, me sentia perdida, chorava sem saber o que fazer, me sentia completamente fora de mim. Aos poucos fui me recompondo, comecei a trabalhar, fiz novos amigos, comecei a sair e até paquerar. Continuei cuidando do meu filho com a ajuda da minha mãe e ao mesmo tempo me redescobrindo. 4 anos anulada faz você perder suas próprias influências e assim foi uma busca por 5 anos a fio… Até que me encontrei, me reposicionei, me senti feliz comigo mesma. Com minhas roupas, amigos, maquiagem, filho e perante a sociedade como um todo. Muita luta, muita lágrima e muita força para chegar até aqui.
Hoje estou casada com um homem maravilhoso, que me incentiva, me ama e me respeita. Não tive presente maior que isso, além claro que hoje tenho uma família maravilhosa com este homem: moro nos EUA e me sinto feliz assim! E eu te digo: você tem um relacionamento abusivo e sente que não vai ter mais nada sem este homem? Você está errada! Sem ele você tem um mundo de possibilidades para ser quem você realmente é e ser MUITO FELIZ, como nunca antes! Depende apenas de você ter essa coragem inicial!
Indicação do site: Leia a série sobre relacionamentos abusivos.